quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Grande verdade

21 de Janeiro de 2014

No fundo, é bastante simples. Todos vamos morrer, um dia. Todos. Ter esta noção presente, ajuda a focar. Não é ter uma sombra, como uma letra de fado, sempre ali a pairar, fatalista. É só ter a tranquila noção de que isto de viver é uma coisa muito passageira, e que é frágil, muito frágil. 
Perdemos muito tempo. Com coisas menores, com pressa. Pressa para quê? 
A nossa vida é, na verdade, um micro mundo, onde os pontos cardeais são as pessoas que nos são importantes. Tentamos não ter de ter tantas saudades delas, quando não estão por perto, tentamos que elas sintam que gostamos mesmo delas, tentamos uma organização básica dos nossos dias, que faça com que as nossas rotinas nos criem uma zona de conforto. Que saibamos com quem contamos, que tenhamos horários padrão, que haja um fio condutor qualquer que faça com que não percamos o pé.
Que os nossos fracassos nos ajudem, nunca perdendo aquela força que vem da ideia de que o que não nos correu bem não nos pode parar e que há que aprender e tentar melhorar, com todo o empenho, sempre. E procurar ajuda, se for preciso. Acreditar nas pessoas e no seu gostar de nós. Exercer o nosso gostar das nossas pessoas, sem reservas é uma saudável tentativa de vida boa. 
E quando nos fazem mal, quando somos injustiçados, mal tratados, quando abusam da nossa boa vontade, ou da nossa ingenuidade, é bom ter presente que toda a maldade é fútil. Até porque, um dia, morreremos. Não há volta a dar.
Se fosse hoje, ou amanhã, ou depois? Estaríamos plenamente satisfeitos com o ponto em que estávamos no nosso ultimo segundo? Ou diríamos: se eu soubesse...
Li, há dias, uma reportagem tocante, no Público, sobre os pais de uma rapariga que fazia parte daquele grupo de jovens que desapareceu na praia do Meco, há uns tempos. Impressionou-me aquela dor incomensurável, e dei comigo a pensar que a vida é realmente frágil, é uma folha gasta pelo tempo, que pode rasgar e desfazer-se com um sopro súbito. E que, por vezes, nos distraímos com coisas sem valor, e nos deixamos levar por vertigens que não deviam ter tanto poder sobre nós. Penso nisto e penso também nestes dias de loucura da economia e dos políticos que vivem numa bolha, de relatórios, previsões macro económicas, "indicadores" e depois há cada vez mais gente sem trabalho, sem comida, sem saúde. Todos vamos morrer um dia. 
Acho que, se toda a gente pensasse nesta verdade simples, mais vezes, as coisas melhoravam. De repente, olha-se para a vida com uma outra perspectiva, mas serena. E agarramos melhor os dias, tão preciosos e irrepetíveis, em que nos é dado o privilégio de estarmos vivos. 

By Pedro ribeiro in DIAS ÚTEIS

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